Estudantes de português da Universidade de Oxford realizaram a maioria das traduções. Lançamento acontece em meio a outros da literatura do Brasil em língua inglesa
É com um poema de Ana Rüsche, Current, traduzido por Jenny Cearns (recém-formada em português pela Universidade de Oxford), que começa a nova coletânea da revista londrina Litro dedicada ao Brasil (de outubro de 2013, número 129). Com edição de Sophie Lewis, britânica que mora no Rio de Janeiro, esta é a segunda edição da publicação mensal que tem como tema o Brasil, desta vez apenas com escritoras mulheres – no ano passado, a Litro havia lançado um número especial (de abril de 2012) com textos literários sobre o Rio.
Em 2012, o lançamento da Litro foi saudado como um dos primeiros, da recente literatura brasileira, a receber apoio da Fundação Biblioteca Nacional em países de língua inglesa, onde a demanda por tradução de autores do Brasil costuma ser pequena. Este ano, porém, a nova edição da revista chegou à instituição, para a constituição de seu acervo, em meio a uma série de outros lançamentos de livros brasileiros com apoio da FBN na Inglaterra e sobretudo nos Estados Unidos. Se o interesse dos editores desses países ainda não é grande em relação ao Brasil, sobretudo em comparação com a demanda de Alemanha, França, Espanha ou Itália, é perceptível que começa a haver um novo interesse.
A edição Litro: Brazil – The Woman’s Writing Issue (ISBN 978-0-9554245-5-7) reúne textos de nove autoras. Uma das inovações dessa edição, conforme destaca a editora Sophie Lewis na introdução, é a tradução da maior parte dos textos por estudantes de português da Universidade de Oxford. Para a maioria delas (todas são mulheres), as traduções foram sua primeira experiência profissional na área, conforme conta editora. Ou seja, além de apresentar escritoras brasileiras, esse número da Litro apresenta e estimula o trabalho de novas tradutoras literárias do português. Lewis também destacou na introdução a importância de ouvir as mulheres num país fortemente machista como o Brasil.
No site da revista, é possível ter acesso a muitas outras informações, inclusive a um artigo do escritor brasileiro Vinicius Jatobá, em que afirma que as escritoras brasileiras atualmente estão escrevendo melhor que os seus contemporâneos homens.
Além de Ana Rüsche – cujo poema traduzido pode ser lido abaixo -, participam Luisa Geisler (com o conto Corinthians 1 – a young wife with more than football on her mind, traduzido por Gitanjali Patel); Juliana Frank (com o conto Lavie in the frightful light – how – and why – not to be desperate to lose your virginity, traduzido por Hannah Bowers); Marília Garcia (com o poema An equation in Hyde Park – a Brazilian remembers rainy days in London, com tradução de Eloise Stevens); Paloma Vidal (com o conto Así es la vida – tracing family across borders and generations, com tradução da professora e poeta Hillary Kaplan); Miriam Mambrini (com o conto Pitch Black – on the impossibility of imagining true sightlessness, com tradução de Gitanjali Patel); Ana Paula Maia (com dois contos: Unruly Roger – an outside hero abandons and wreaks havoc among the measured bourgeois of the city, traduzido pela professora Claire Williams; e Spore – a manicurist fosters a dark secret, traduzido por Sarah Jacobs); Marina Colasanti (com dois poemas: Open closet door – on seeing clothes not unworn and mountains not unmoving e We call the breath of the mountains, ambos com tradução da experiente Diane Whitty); e, por fim, Carola Saavedra (com o conto Coexistence – can a ficctional creation really step off the page?, com tradução de Clelia Goodchild).
A seguir, a tradução do poema de Ana Rüsche, por Jenny Cearns:
Current – on the electrical relationship between Brazilians and the ocean
Our generation never got to see the sea for the first time.
It was always within us, gleaming, our other half
–
We beg, beg the nights to darken once more
but when our prayers are answered
it’s just a dimwit delusion, a sea-shimmer to the eyes and
the sea seethes deep inside, a rock-crunching beast
–
We were born flailing whales
poor little demons drowning in this semblance of light
and the longing is so stingily slight
–
We just want to see the fucking sea
please,
for the first time.