A DIFUSÃO INTERNACIONAL DO HQ BRASILEIRO, COM DESTAQUE PARA PORTUGAL

Atualmente, as histórias em quadrinhos representam um nicho importante da economia criativa que tem apostado em quadrinhos adultos com temáticas que vão dede as obras literárias adaptadas às que retratam o underground urbano. Saindo do papel e inovando, as HQs assumem também novas modalidades de existência no mundo das animações, dos jogos eletrônicos e até mesmo dos objetos licenciados. Criadores brasileiros de HQs “autorais” notam, com frequência, a transformação pela qual o setor passou nos últimos anos ao reconhecer que o meio era tão restrito há 20 anos que os autores liam o que os colegas tinham feito e nesse pequeno círculo melancolicamente esgotava-se o público.

Os novos tempos levaram os HQs brasileiros aos Estados Unidos e à Europa. Em Portugal, eles encontraram um porto seguro. É interessante, aliás, notar o envolvimento desse país com as HQs, existindo toda uma bibliografia especializada a respeito. Em Portugal, as “histórias aos quadradinhos”, como se dizia em meados do séc. XIX, estrearam com as “Aventuras Sentimentaes e Dramáticas do Senhor Simplício Baptista” (1850), assinadas por Flora, provável pseudônimo do caricaturista Antônio Nogueira da Silva (1830-1868). No Brasil, mais ou menos no mesmo período, as histórias em quadrinho ganham forma com a crônica política e social das revistas ilustradas, cabendo às Aventuras de Nhô Quim, de Angelo Agostini (1843-1919), italiano radicado no Rio de Janeiro, o status de primeiro HQ nacional (1869). Como que a inaugurar as boas relações dos dois países no mundo da “banda desenhada”, em 1870 desembarcava no Rio, vindo de Lisboa, Raphael Bordallo Pinheiro (1846-1905), à época o mais importante ilustrador, caricaturista e criador de HQs português. Ficou quatro anos no Brasil, fez-se amigo de Angelo Agostini e trabalhando ativamente para O Mosquito, Psit!!! e O Besouro

Aventuras de Nhô Quim, de Angelo Agostini

No âmbito editorial português, a Editora Polvo, com quase 20 anos de estrada, já publicou autores franceses como Marjane Satrapi e Joann Sfar e dedica-se à divulgação de autores brasileiros como D’Salete, Quintanilha, Aguiar, Diniz, Ducci, Nunes, Odyr, Neco, Coutinho, Frazão. Com o suporte do Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior da Fundação Biblioteca Nacional, a Polvo soma 15 publicações de HQ brasileiro em Portugal (10 já concretizadas e 5 ainda em processo de edição). As 10 obras já publicadas são: Coisas de adornar paredes, de José Aguiar; Hinário nacional, de Marcello Quintanilha; O Ateneu, de Raul Pompeia e Marcello Quintanilha; Portais, de Octavio Cariello e Pietro Antognioni; Angola Janga, de Marcelo Marcelo D’Salete; Kardec, de Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa; Morro da Favela, de André Diniz e Maurício da Costa; Folia de Reis, de Marcello Quintanilha; Matei o meu pai e foi estranho, de André Diniz; A Revolta da Vacina, de André Diniz. Para os próximos anos, aguardamos as publicações das seguintes obras de HQ brasileiro pela editora Polvo com o apoio da FBN: Zodíako, de Jayme Cortez; Os sertões, de Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa; Talco de vidro, de Marcello Quintanilha; O terror negro, de Jayme Cortez; A caravela, de Nilson

Publicações da editora portuguesa Polvo com o apoio do Programa de Tradução da FBN

Dos livros publicados com o apoio do Programa de Tradução da FBN, cinco deles integram o Plano Nacional de Leitura 2027 (implementado pelo Governo de Portugal e que funciona como “selo de qualidade”), sendo elesSão eles: Hinário nacional, de Marcello Quintanilha; O Ateneu, de Raul Pompeia e Marcello Quintanilha; Angola Janga, de Marcelo Marcelo D’Salete; Kardec, de Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa; e Morro da Favela, de André Diniz e Maurício Hora.

Desde 1990, a cidade portuguesa de Amadora, na região metropolitana de Lisboa, promove o “Festival Banda Desenhada”. Em 2020, a emergência sanitária fez com que o Amadora BD fosse totalmente online; em 2021, o modo “híbrido”, com eventos online e presenciais, oportunizou sessões de autógrafos, exposições e oficinas de autores portugueses e estrangeiros dentre os quais citamos Georges Bess (Drácula, de Bram Stoker), Philippe Thirault (autor de Shanghai Dream ilustrado Jorge Miguel). Pela primeira vez, o festival, em sua 32ª edição ininterrupta, concederá um prêmio em dinheiro, de 5.000 euros, à melhor HQ de autor português (no final desse post, você encontrará a relação dos vencedores dos Prêmios de Banda desenhada da Amadora 2021).

Atualmente, os grandes festivais de Amadora e de Beja refletem o valor que os portugueses conferem a esse gênero literário, conjugando planejamento editorial e promocional em eventos com boa afluência de público. Nesses eventos, os HQs brasileiros são apreciados pela variedade temática e de estilos bem como por sua originalidade e qualidade gráfica. Assim, por exemplo, o Prêmio Nacional de Banda Desenhada de Amadora (2016), premiou Maria!…, de Henrique Magalhães, na categoria Melhor Álbum de Tiras Humorísticas. O Festival de Banda Desenhada de Beja (2017), que contou com 10 países representados, teve os brasileiros Rafael Coutinho (O Beijo Adolescente, Mensur), Flávio Luiz (Aú o Capoeirista, Rota 66), Pedro Cobiaco (Cais, Harmatã)dentre os convidados.

Cabe recomendar o bonito Catálago HQ Brasil que reúne o melhor da produção contemporânea nacional. Esse catálogo terá versões em outros idiomas e serve de subsídio para outras iniciativas do Itamaraty na promoção do HQ brasileiro no exterior. Disponível no link abaixo:

https://drive.google.com/file/d/1XvqpRTD23C0-2ZfYZCYohGcGKSQ7Fpx7/view

Vencedores Amadora BD 2021

Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português
Balada para Sophie, de Filipe Melo e Juan Cavia

Melhor Obra Estrangeira de Banda Desenhada Editada em Português
Burlão nas Índias, de Alain Ayroles e Juanjo Guarnido, da editora Ala dos Livros

Prémio Revelação
Ricardo Santo, por Planeta Psicose, da editora Escorpião Azul

Melhor Fanzine / Publicação Independente
Bestiário de Isa, de Joana Afonso, edição da autora

Melhor Edição Portuguesa de Banda Desenhada
Procura-se Lucky Luke, de Mathieu Bonhomme, da editora A Seita 

Sobre Book Center Brazil

O Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior, criado pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN), objetiva difundir a cultura e a literatura brasileiras no exterior, com a concessão de apoio financeiro à tradução e à publicação de obras de autores brasileiros no exterior. O Programa é oferecido a editoras estrangeiras que desejam traduzir para qualquer idioma, publicar e distribuir, no exterior, em forma de livro impresso ou digital, obras de autores brasileiros anteriormente publicadas em português no Brasil.
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