Claire Varin
Não me lembro onde li que uma das coisas que se deve fazer no decorrer de um ano é visitar uma cidade desconhecida. A ideia ficou gravada na minha mente apesar de a fonte ter secado na minha memória… De qualquer forma, cumpri a prescrição: fui este ano a Campina Grande, onde nunca tinha ido, no estado da Paraíba, depois de ter passado por Salvador para tirar umas dúvidas de tradução com o autor baiano Aleilton Fonseca, durante uma residência apoiada pela Fundação Biblioteca Nacional.
Assim, em Campina, fui acolhida no aeroporto por uma boa brisa e pela professora Sinara Branco, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino, da Unidade Acadêmica de Letras da UFCG. Um título longo que, da parte dessa também tradutora do inglês para o português, não dissimula um entusiasmo irradiante por viagens entre as línguas. Alías, foi a Sinara (nome soando prazerosamente como sirène/sirena para a francófona que sou) que me sugeriu animar uma oficina de tradução na Universidade, já que eu devia participar, como bolsista da FBN, de atividades com esta instituição parceira. Pois bem, vamos lá.
No entanto, como sou autora, também propus, entre outras atividades para o ateliê, a tradução de um conto meu, Entre os sexos, os mundos e as culturas… Parece-me que não há nada mais eficaz do que traduzir com o autor por perto esclarecendo sua intenção, sua visão e o uso e o contexto de regionalismos ou palavras mais requintadas ou de expressões dos diálogos. Objetivamente falando, o contato com o autor é precioso e, quando este é também tradutor, a ajuda é determinante para acabar com as hesitações sobre escolhas possíveis e andar no caminho certo.Vejam o resultado do trabalho com os alunos, em texto revisto por Alyere Silva Farias e Josilene Pinheiro-Mariz que participaram ativamente da Oficina (retratada na foto), no seguinte endereço.
Foi uma alegria sentir o interesse dos 24 participantes, professores e estudantes, inclusive de outro idiomas, como o inglês e o espanhol. Foi um prazer observá-los enumerar equivalências portuguesas para termos ou figuras na língua de Molière. A autora ficou feliz e a tradutora também, percebendo a dedicação de todos debruçados sobre o ofício.
À convite da professora Rosiane Xypas, participei do Dia da Francofonia na UFCG, com uma palestra sobre minha descoberta da obra de Clarice Lispector e do Brasil, onde fiz várias estadias primeiramente para minhas pesquisas de doutorado sobre esta imensa escritora e «o espírito das línguas».
Em 1983, no Rio, visitei a Academia Brasileira de Letras com o saudoso Otto Lara Resende que me pediu então para dirigir umas palavras à assembleia. Quando comentei esse fato no ouvido do Aleilton Fonseca, de quem estou traduzindo, com a colega Danielle Forget, o livro de contos A Mulher dos Sonhos para o Québec, ele me pôs em contato com o acadêmico Antonio Carlos Secchin. Com este importante poeta e ensaísta, fiz uma visita de reconhecimento à ABL antes de eu embarcar para o Canadá. Foi assim que parei de novo, trinta anos depois, diante da estátua de Machado de Assis, na entrada da Academia, e imortalizei o momento (no alto, à esquerda, a foto de Claire e Secchin), já que não sou uma imortal…
Finalmente, dei um pulo na Fundação Biblioteca Nacional, que agradeço pelo apoio tão bem vindo para os encontros de trabalho que tive em Salvador com o autor Aleilton Fonseca, que ficará vinculado à terra do Québec graças a suas « histórias de humor » vertidas para o francês.